Naquele início de noite, meu pai não compreendeu direito quando acabaram os pênaltis. Dezesseis anos depois, descobri que ele estava bêbado. Só eu sabia que o baixinho, com mais um gol, seria o artilheiro do torneio. Só eu admirava a infalibilidade do árbitro húngaro. Só eu sei de cor as palavras de êxtase do locutor da TV. Meu pai havia visto o Tri, aos 12 de idade.
Só eu sabia que a Romênia tinha um craque chamado Hagi e que o Salenko fizera cinco tentos contra Camarões. Eu sabia que o colombiano Escobar fora assassinado por causa de um gol contra. E que o Maradona ficou de fora por causa do doping. Que naquela época tomava-se Kaiser Bock. Eu fui o único que imitei o corte do cabelo do Roberto Baggio.
Ninguém mais se lembra, mas no noticiário um vidente de cabelos longos e brancos profetizou, com sotaque castelhano: “Na final, o Brasil vai enfrentar a Alemanha. E o Brasil vai perder.” Seria verdade! A Alemanha era mesmo o melhor time, no meu jogo de FIFA Soccer. E foi com uma bruxa dessas que aprendi como induzir os atletas a errarem as penalidades. Hoje em dia não faço mais, mas já beneficiei muitos goleiros.
Parreira se foi, mas no ano seguinte eu tinha meu ingênuo esquete já escalado, perfeito, sem um camisa 10, mas com Romário, Bebeto, Ronaldo e Sávio na dianteira. Por causa deles, tive uma breve mas promissora carreira de jogador. Um plantado sem técnica e habilidade alguma. Mas com exemplar disciplina.
Daquele tempo, só ficou o Dunga. Eu tinha oito aninhos, ele 30. Hoje somos contemporâneos. Se precisar de mim, tô aí.
Esse é o FIFAworldCano.
Fantastic!
ResponderExcluirExcepcional análise. Um torcedor infantil. O outro lado da paixão nascente pelo esporte.
ResponderExcluirMuito bom! Em 1994, eu tinha os mesmos 12 anos que seu pai tinha em 1970, e a Copa de Romário foi mesmo inesquecível. "Todos os corações do mundo" estavam no Rose Bowl, naquele dia 17 de julho.
ResponderExcluirNão era minha primeira copa (eu já havia acompanhado, ainda que com um pouco menos de paixão, o tri da Alemanha, em 1990), mas a Copa dos EUA ocupa um lugar especial nas minhas memórias afetivas sobre o futebol (me lembro de cada craque que você citou, e também de alguns não citados: Stoichkov, Kenneth Anderson, Martin Dahlin, Tomas Brolin, Preud´Home, aquele saudita que marcou um golaço, o autor do primeiro gol nigeriano comemorando seu tento abraçado às redes).
Cara, só de lembrar já dá vontade de chorar de alegria! (Sério!)
gostei :)
ResponderExcluirGrande Matheus
ResponderExcluirEste seu texto me emocionou muitíssimo, aidna mais por causa das memórias evocadas por conta dele. Lembro de algumas coisas tabmém, da Copa de 1990 (quando tinha 8 anos): Lembro, por exemplo, que foi o Careca quem dançõu lambada na frente da bandeirinha do escanteio, no que foi imitado por Roger Millá (Camarões). O engraçado é que Rogr foi imortalizado pela dancinha, muito antes dos meninos dos Santos... Mas a patente é brasileira, mesmo assim! Lembro ainda do Maradona cuspindo na cãmera, totalmente louco de dopping, creio eu. E não há como esquecer o brilhantismo de Matheus, alemão que venceu a copa de seu país. Já na copa de 1994 (eu tinha 12 anos) e eu me recordo de um atacante boliviano conhecido como "El Diablo", que jogava muito. Tinha também um exímio cobrador de faltas, chamado Hristo Stoichkov, da Bulgária. E como nao lembrar do roqueiro Lalas,zagueiro dos EUA? Agora uma confissão, que nao é antipatriota, nao me entenda assim: nao queria que o Baresi tivesse perdido o penalti! Achava que o cara era um exemplo de garra e de general, que comandou a Itália até o fim. Bem, é espero ter somado com suas memórias. Porque toda memória é coletiva. Abraço, camarada!
Erivelton